#005 - Ai, que saudade do meu chimarrão!
Uma crônica de amor, internet discada, 'cacetinhos' na padaria e gurias que falam 'bah!' no meu ouvido.
Talvez a vida em 2004 já me dava sinais do que estava por vir na minha estranha vida adulta em tempos atuais.
Foi pela internet que tudo começou.
Época de ICQ. Meu número era 835-alguma-coisa. Acho que 7 ou 8 dígitos, por aí.
Isso já meio que desvenda a minha idade, né?
Eu tinha 16 anos, e foi assim que conheci o meu primeiro amor dos pampas brasileiros.
Eu tinha dois contatos no meu ICQ. O primeiro contato, era meu primo — o eterno surfly — era seu nickname no ICQ, lembro como se fosse ontem a mensagem de pop-up quando aparecia “surfly está online”, e a florzinha verde do logo.
Nostálgico.
E o outro, meu contatinho.
Foi minha primeira viagem de avião. Tudo que começou online, virou vida real.
Como disse, parecia premonição para minha atual vida de solteiro.
Lá em 2003 era tudo diferente. Tudo mais rústico. Não tinha ghosting. Não tinha cancelamento no twitter, não tinha textão de política no Facebook.
Era tudo mais leve.
Então eu viajei. De São Paulo à Porto Alegre. Sozinho. Aos 16 anos. Só nos falávamos pela internet até então.
Minha mãe até ligou para a outra mãe. Mas imagina que loucura. Tudo isso acontecendo em meados de 2004. Tô escrevendo isso agora, e talvez só agora, tô pensando na insanidade que foi fazer aquilo em dois mil e quatro. Naquela época ainda não existia Uber e nossas mães falavam pra gente não entrar em carros de estranhos.
Hoje a gente só entra em carro de gente estranha.
Vai entender!
Pousei no Aeroporto Salgado Filho, com aquela dor de barriga.
A mãe do outro lado foi me buscar. O irmão também foi. Quase a família toda. Imagina a pressão. Eu só tinha 16 anos.
E a gente, adolescentes que foram unidos pelo amor à mesma banda e às mesmas coisas que gostávamos, iríamos nos encontrar pela primeira vez. Naquela época, Porto Alegre era só mato. E me lembro de passar pelo Rio Guaíba. Era só mato.
Brincadeira. Quem sou eu pra dizer isso? Um paulista que fala “bah, tchê!” e agora pede cacetinho na padaria. Mas eu gosto mesmo, é de cacetinho queimado.
Quando tu morde, tem aquela crocância, sabe? Hmmmm.
Meu primeiro amor gaúcho, unido pelo blink-182. Foi assim que aconteceu. Eu tinha só 16 anos. E ainda era virgem. Ainda.
A vida já tava me dando sinais do que estava por vir. De toda a loucura que poderia vir a ser, o primeiro amor — de talvez muitos, de talvez poucos, de talvez tantos — ao ouvir um “bah, tchê!” ao teu lado.
Mas o primeiro amor a gente nunca esquece.
Mas calma lá.
A essa altura você está lendo e pensando:
Quem foi a loirinha gaúcha do olho azul?
Não foi.
Nem loirinha.
Nem olho azul.
O nome dele era Marlon.
O Marlon foi meu primeiro amigo virtual.
Nos conhecemos por conta de sites de anime e Dragon Ball Z, e depois descobrimos que gostávamos de blink-182 como loucos.
O Marlon me ensinou e deu dicas de como criar sites. E assim, em 2003, começamos o Action182, juntos. Logo depois, o Marlon resolveu fazer outras coisas — provavelmente trabalho — mas nem me lembro mais, e eu toquei o Action182 sozinho.
A parte que minha mãe ligou pra mãe dele é verdade. As mães estavam com medo.
Ninguém tava entendendo nada. Dois guris doidos da internet que gostavam das mesmas coisas.
E de fato a viagem foi tri legal, ou massa demais. Comi horrores. Passei frio. Afinal, era inverno no Rio Grande do Sul. Baaaaaahhhhh!
Fiz amizade com o irmão dele também. Os pais deles foram sensacionais e muito carinhosos durante toda minha hospedagem.
Conheci Porto Alegre também. Enfim, a primeira vez que a gente saí do nosso estado, viaja pra longe, conhece um amigo, é inesquecível.
Mas calma lá.
Continuei virgem, tá? A gente era só amigo mesmo. Continuamos amigos por alguns anos. Perdemos contato. E uns tempos atrás nos encontramos — adivinha onde?
Nas redes sociais, novamente.
Hoje o Marlon tem uma família. Uma esposa. E uma filha.
E ainda sofre com o Grêmio.
E o Bruno? Esse aí desandou na vida. Mas já voltou pra Porto Alegre várias vezes. Não por causa do Marlon, mas por causa da sua maior fraqueza:
Uma gaúcha falando “bah!”.
Fale bah no meu ouvido, e tu terás o meu amor.
Eu me apaixonei por uma gaúcha. Bah.
Ia na padaria (porque ela pedia) pedir cacetinho branquinho, pois era assim que ela gostava. Como pode, né? O amor faz loucuras.
Eu indo na padaria pedir cacetinho… Pra ela querer meu cacetinho.
Bah, me passei. Desculpa.
A guria mexeu comigo. Me ensinou a fazer o famoso chimarrão.
Ou, como ela chamava, um chimas. E eu até que aprendi direitinho.
Comprava cacetinho. Íamos na Baixa tomar uma Polar. Andávamos ao pé do Guaíba.
Transávamos pela manhã. Pela tarde. Pela noite.
No sofá. Na cama. Na cozinha. Em tudo que é lugar.
Baaaah!, que loucura. Saudade do chimarrão. Pelado no sofá, rindo com você. Falando sobre largar tudo e fugir pra Cuba.
Saudade daquela gaúcha.
Teve uma última gaúcha. Essa também mexeu comigo.
Mexeu tanto que ia vir até passar o Dia dos Namorados comigo, na Itália. Imagina que romântico? Acho que a gente ia casar depois de tanta loucura e romance.
Mas aquele Aeroporto — o Salgado Filho — o mesmo que me recebeu de braços abertos em 2004, resolveu mergulhar no Guaíba. E todos os voos foram cancelados.
E foi assim que nosso romance acabou.
E tudo que era doce, ficou salgado. Como o aeroporto.
Um triste e melancólico fim daquilo que nunca começou direito, talvez. Mas a gente se apaixonou. Pelo menos um pouquinho.
Eu, pelo menos, me apaixonei. Toda vez que ela falava “bah!!!” no meu ouvido.
Entre a primeira gaúcha e a última gaúcha, talvez tenha tido uma e outra gaúcha.
Eu tenho uma fraqueza, já disse.
Bah, meu. Não fala assim no meu ouvido.
O problema é que todas as minhas gaúchas. hoje, estão casadas, namorando, com filho, etc. Não dá nem pra mandar um oi, sumida!.
Pelo menos o Marlon, esse eu ainda posso mandar um oi, sumido!.
Inclusive acho que vou fazer isso, e vou mandar esse texto pra ele.
Todo mundo parece que encontrou seu amor. A primeira gaúcha, a última gaúcha, o Marlon, enfim…
Sabe o que é o pior?
O Bruno descobriu que existe uma gaúcha que mora na Ericeira. Ela fala bah! e adivinha? Agora ficou solteira.
Ela que não fale bah! no meu ouvido. Não quero me apaixonar de novo.
Meu coração não aguenta. Mas talvez seja o destino.
Baaahh, eu tomaria um chimarrão com ela!
🌀 Um Surto
O Brasil é o único país onde "cacetinho" é um pão, "pão" é um elogio, e "cacetada" pode ser carinho. Boa sorte, gringos!
🎺 Uma Música
Em homenagem ao Marlon, vou colocar essa música que ele me mostrou lá nos anos 2000 e alguma coisa.
👍 Um Pensamento Positivo
A gaúcha que tá solteira provavelmente nunca vai ler isso aqui, mas se você ler, vamos tomar um chimarrão e ver o pôr-do-sol juntos?
Joguei no universo.
Bah, tchê, bagual!
kkkkk muito bom! Quando tu começou o texto, ja logo me identifiquei xD